sexta-feira, 18 de março de 2011

Noivas do Cordeiro e Josiele Fernandes Almeida;


Com os estudos etnológicos iniciados em 2006, Mobilização Sócio-Comunitária e intervenção antropológica na Comunidade de Noiva do Cordeiro, muitas pessoas revelaram-se empreendedoras, inteligentes e extremamente criativas. O processo inicial, embora empolgante foi dificultoso e exigente. Havia um entusiasmo e motivação dos moradores, com muita alegria e expectativas.

As primeiras reuniões fizeram delinear um empreendimento científico, distinto do que era realizado, noutras comunidades, desde 1999. Em Noiva do Cordeiro havia um ambiente de absoluta tranqüilidade, embora com os primeiros encontros, os moradores foram conscientizados, através de conversas e palestras, sobre a Representação Social delas para os moradores de Belo Vale, e o que isso poderia acarretar para o futuro deles dentro do município.

Foram feitos os primeiros levantamentos. Naquele período havia cerca de 250 pessoas, que aos finais de semana, quinzenalmente chegavam a 311 indivíduos. Havia uma população jovem, com absoluta predominância de mulheres. Eram nove crianças, quatro adultos na quinta idade, doze na terceira idade, vinte e quatro na faixa etária mediana, e os demais eram compostos por jovens entre treze e vinte oitos anos. Flávia Emediato e Elida Dayse Leite foram recomendadas fazerem os primeiros levantamentos historiográficos, sobre os antigos moradores locais. Rosalee Fernandes e Delina Fernandes tornaram-se patrocinadoras do empreendimento. Liberaram espaço para ateliê (tecnologia do bambu e cerâmica), escritório e biblioteca comunitária.

No segundo mês de relacionamento ocorreu o primeiro choque cultural, entre moradores e pesquisador. Certamente, mesmo para um profissional com larga experiência, como pesquisador científico, poderia se surpreender com as diferenças comportamentais que apresentavam. Era um ambiente inusitado, com dezenas de pessoas recém saídas da adolescência, vivendo no extremo do município, na zona rural, entre colinas e matas. Acostumados à liberdade e felicidade que o ambiente permite.

Conforme o que estava prontamente estabelecido e a forte resistência à intervenção, convencionou-se que deveria ser interrompida ação no local. Nisto, alguns moradores reuniram-se e dissuadiram o antropólogo a não sair e que concedesse outra oportunidade de realizar o que estava em pauta. Ofereceram-se para acompanhar todas as atividades do profissional e intervir quantas vezes fossem necessários, os seguintes moradores: Vasseni Fernandes Pereira, Cláudia de Lima, Josiele Fernandes de Almeida.

Uma seqüência nova de atividades foi posta em prática. As motivações se renovaram. Vasseni, Cláudia e Josiele se tornaram imprescindíveis para a continuidade do projeto comunitário. Naturalmente, na forma de animadores de comunidade as resistências foram cedendo lugar ao consentimento. A Mobilização Sócio-Comunitária foi posta em prática, na forma de projeto de capacitação profissional, e organização comunitária. Surgiram lideranças que foram delegadas a elas funções específicas, mais ou menos de acordo com as necessidades e possíveis vocações. Raniele Leite tornou-se gerente do Ateliê e Valéria de Artesanato, Flávia Emediato e Renata Emediato, como diretoras da Biblioteca Comunitária, Vasseni Fernandes Pereira, chefe do transporte, Cláudia de Lima, Secretária de Cultura, Josiele Fernandes de Almeida, Monitora de Antropologia e Fotógrafa oficial.

Evidentemente a contribuição foi geral, mas não se pode negar que as atitudes de Josiele Fernandes Almeida tornaram-se indispensáveis para que se desse continuidade ao empreendimento. Durante os primeiros quatro meses ela foi capaz de fotografar, de maneira excepcional, 5.444 poses de qualidade, não sendo necessárias maiores ajustes das fotos depois de batidas. Durante seis meses redigiu, sob orientação na forma de ‘Ghostwriter’, o livro – Alamiré; do Tejuco à Noiva do Cordeiro. Muitas vezes ultrapassou os limites físicos para ver acabada alguma tarefa.

Mostrava-se, geralmente, recatada e nunca estava à frente das atividades comunitárias, mas após comprometer-se em colaborar para que tudo ocorresse bem, envolveu-se nas mais diferentes frentes de trabalho. Organizou grupo de pesquisas quantitativas no município. Organizou eventos e participou da redação do folhetim Noiva do Cordeiro. Realizou palestra, pela primeira vez, na Igreja Católica, dos Pintos, em Belo Vale; havia um clima tenso, quando a maioria dos moradores se retirou como que não concordando com o que estava sendo dito a favor da comunidade Noiva do Cordeiro. Ela ainda concedeu a primeira entrevista, para o Jornal Estado de Minas, durante duas horas, para falar sobre a discriminação contra as moradoras de Noiva do Cordeiro.

Há uma soma considerável de dados informativos sobre Noiva do Cordeiro que se deve ao total esforço dessa moradora em transmitir para o pesquisador. Poder-se-ia multiplicar, facilmente, os inúmeros exemplos de esforço e consideração que ela forneceu, de maneira surpreendente. Durante, o período de 2006-2008, os registros e estudos relativos à comunidade, compuseram um volume de 12.700 laudas de computador. Uma parte na forma de livro, cujos títulos são os seguintes: Noiva do Cordeiro; origem de um preconceito (historiografia),Vale do Paraopeba; Comunidades.

Esta postagem é um registro de fato que bem poderia passar despercebido e ignorado, não fosse a relevância e significado que contém, nos estudos e levantamentos científicos, naquela comunidade. Certamente, o amor dessa jovem pela sua comunidade e a todos os moradores é algo impressionante, jamais visto antes durantes os anos de pesquisa na região. Ela abriu mão, durante longo período, da sua rotina divertida e prazerosa, para cumprir o compromisso, na forma voluntária, que fizesse seguir o projeto de Pesquisa Etnológica e Mobilização Sócio-Comunitária. Várias pessoas da comunidade contribuíram direta e indiretamente para que o empreendimento fosse levado a cabo. Contudo, a jovem moradora de Noiva do Cordeiro, Josiele Fernandes Almeida, esteve sempre mais próxima dos acontecimentos que provocava tensão e estresse, além de sua dedicação para compreender as atividades antropológicas. Foram momentos emocionantes belos e outros atribulados. Sem a sua ajuda, sua motivação e incentivo, tudo seria mais difícil. Sinceros agradecimentos.



quarta-feira, 4 de agosto de 2010

NOIVAS DO CORDEIRO; sociologia da moral


Os acontecimentos de rejeição contra os moradores de Noiva do Cordeiro, registrados durante o período de estudos etnológicos no povoado, estão fundamentados nos padrões culturais da região. A história, por estes lados, se desenvolveu durante os últimos trezentos anos, sob influência massiva do pensamento cristão católico, entre a maioria dos vizinhos. Concretamente, os moradores de Noiva do Cordeiro foram rejeitados e não por preconceito, muito embora aleguem, em entrevistas, matérias jornalísticas, documentários, reportagens rapidinhas, fictícias, superficiais e unilaterais. Rejeição é o termo apropriado que se aplica no caso deles, uma rejeição que surgiu a partir das contrariedades que provocaram e não por serem vistos de modo injusto e sem quaisquer embasamentos.

Sanção Social para coibir excessos e promover
a ordem vigente...

Todos os seres humanos são afetados pelos padrões culturais, ainda que os ignore. Isso vale para todos os setores da sociedade, pois se as pessoas não fossem mais ou menos previsíveis, os negócios seriam mais complicados de se desenvolver, a economia de qualquer lugar do mundo seria sempre afetada gravemente. Suponhamos que todas as pessoas mudassem repentinamente e saíssem às ruas de modo inconveniente, seria um trabalho difícil inclusive para a polícia. Todos nós somos afetados pelos padrões culturais. Portanto, todos nós estamos sujeitos às normas e punições legais. Conforme as leis vigentes daquele período, poderiam ser processados e condenados por muitas das suas atitudes, especialmente pensando na postura inconveniente e precipitada de “transformar a Igreja num bar”. Este foi um rompimento com o que as pessoas geralmente consideram sagrada e verdadeira. A atitude corajosa é um fato inédito, com sinais claros de rebeldia contra os princípios que anteriormente defendiam, de modo fundamentalista. É um fato antropológico surpreendente e de difícil compreensão para o leigo. Contundentemente, pode-se afirmar que seja algo impossível de ser aceito ou compreendido por pessoas crédulas e supersticiosas.
Para quem precisa lidar com aquilo a que se chama “o público”, a existência de um comportamento padronizado é de máxima utilidade. A vida em sociedade seria praticamente impossível se não fosse o fato de existir formas de comportamento regularmente padronizadas, portanto previsíveis, embora, não demasiadamente previsíveis. Existem pessoas que dizem: “não me importo com o que pensam de mim. Sou assim, e os meus amigos gostam de mim, do jeito que sou”. Pensar assim é o mesmo que agir feito as avestruzes que enfiam a cabeça num buraco e deixam o corpo de fora. Realmente, sempre teremos pessoas que se identifiquem conosco, mesmo que isto signifique a chatice de ter a companhia de um bando de pessoas tolas, promíscuas, marginais e cínicas. Por outro lado, somente os tolos gostam da companhia dos tolos, mas os sábios e bons são sempre mais exigentes; tolos são sempre mais exibicionistas e surpreendentes, mas a surpresa não deve ser maior do que a lei permite. Seria uma conversa inteiramente estúpida se alguém tomasse o argumento como se ele significasse – repressão, castração ou autoritarismo. Ao contrário, isto significa plenamente disciplina segundo os ditames da liberdade condicionada. Segundo os limites tênues do concebível, a liberdade não é ilimitada, pois seria selvagem e absolutamente constrangedora, portanto, ao contrário não seria liberdade. A liberdade pressupõe vários critérios, inteligentemente, esquematizados. A norma é necessária, ou todos nós teríamos dificuldades para lidar com os outros, e nem mesmo o marido e esposa saberiam a melhor maneira de agir, um com outro, e os filhos seriam também afetados.

“Os tolos são sempre mais exibicionistas e surpreendentes,
mas a surpresa não deve ser maior do que a lei permite”.

Dois dos problemas mais interessantes e difíceis das ciências sociais consistem em determinar como é que os padrões de cultura se modificam. O comportamento das pessoas afeta os padrões de conduta na sociedade. Desde os tempos mais antigos até os dias atuais, a norma e o bom senso sempre facilitaram as relações entre os povos e há sérias conseqüências para aqueles que rompem com o que está estabelecido como sendo certo e normal. Faze-lo é um risco considerável. No que diz respeito à comunidade de Noiva do Cordeiro é imprescindível considerar que se trata de uma vila dentro de um contexto sócio-cultural, e está à mercê dessas mesmas normas de conduta estipuladas pela sociedade a que pertence. O rompimento com qualquer dessas regras, por mais simples que sejam, provoca e deve sempre provocar reações as mais diversas. As mudanças repentinas e surpreendentes provocam estresse e reações. É necessário fazer um exame de consciência e analisar até que ponto as pessoas podem romper com a norma, moral e bons costumes sem prejuízo algum.
A moral precisa ter algumas linhas seguras e equilibradas. São importantes a conceituação e análise sobre as implicâncias que existem nas questões envolvendo a sociologia da moral. É justamente a nossa aderência aos princípios éticos que decidirá sobre os limites de nossa liberdade. Todas as pessoas na civilização estão sujeitas às sanções sociais e jurídicas.
Há um contraste surpreendente nas atitudes dos moradores de Noiva do Cordeiro, quando se rebelaram contra os princípios e dogmas de sua religião, assumiram os riscos ao agirem de maneira revoltosa e revoltante; a partir do ponto de vista da defesa do que é proveitoso para a harmonia social. Desobedecer e agir ao contrário do que se espera, sempre, provoca, e no caso deles, provocou reações, com processos e demandas judiciais; numa pendenga por longos períodos de anos. Com a transformação do edifício da igreja Noiva do Cordeiro num bar, isto fez com que surgissem comentários e indignação contra eles. É uma hipocrisia negar a ofensa cometida contra os vizinhos religiosos, e, inclusive muitos membros da própria seita, seus parentes. Vale ressaltar que essas pessoas são testemunhas oculares dos acontecimentos do povoado, inclusive estiveram em situação litigiosa contra os moradores de Noiva do Cordeiro, por diversos motivos, eles nunca foram ouvidos, como deveria ser nas reportagens honestas e
obedientes à ética jornalística.
Sabe-se que as igrejas são locais que as pessoas acreditam ser pontos de encontros com a presença simbólica de Deus, há os que admitem acreditar que uma presença espiritual esteja presente. Esta ligação simbólica é transformada em direitos sobre o que é relevante para o equilíbrio social entre as pessoas que acreditam ou não, sendo uma crença proveitosa, há de se supor que o sagrado é o que essas pessoas admitem por sagrado, merecendo respeito.


“Com a transformação
do edifício da
igreja Noiva do Cordeiro
num bar,
isto fez com que surgissem comentários e
indignação contra eles.”

Segundo os levantamentos, através de entrevistas e convívio intenso, ficou tácito que as ocorrências foram exuberantes e dignas de intensos estudos científicos. Do mesmo modo o leitor honesto e inteligente não deve julgar e reagir perversamente contra um acontecimento ocorrido há mais de vinte anos. Trata-se, pois, de contextualizar os fatos sem negligenciar os fatores. A velocidade com que fizeram as transformações foi um grande susto e fez com que algumas das mais brilhantes mentalidades também ficassem chocadas. Sabe-se que no espaço curto de tempo, dizem que em um ano, os membros da seita Noiva do Cordeiro, simplesmente, retiraram as paredes da igreja e começaram a comercializar bebidas, promover a jogatina, bailes e mais tarde os “famosos” desfiles de peças íntimas, com meninas adolescentes da comunidade. Em Desterro de Entre Rios, a atitude foi ainda mais ousada, pois transformaram a própria igreja num bar. Alguns dos seus vizinhos que residem dentro e próximo do povoado, afirmam categoricamente que imediatamente após essas fortes transformações, seguiram-se os descasamentos e mudanças de parceiros, o uso de bebidas alcoólicas e tabagismo, e seus vizinhos dizem de modo claro – “o uso de drogas e troca de casais”.
Durante o período de observação-participante, os moradores negaram que tenha havido práticas de promiscuidade entre eles e não foi possível registrar algo nesse sentido. Certamente esses não foram os objetivos científicos de pesquisa etnológica ou mobilização comunitária. Mas, por motivos óbvios, foram realizadas inúmeras palestras e admoestações sobre drogas, inclusive gravadas em vídeo.
Os moradores do povoado, na versão deles sempre defenderam a idéia de que nutrissem profundo respeito um pelos outros. E é óbvio que a noção de respeito deles é expressamente particular, não assemelhando à idéia defendida nas proximidades vizinhas. Realmente, algo notável que foi observado durante o período de intenso convívio de observação-participante, de 2006-2008, era a fabulosa cordialidade uns com os outros e tolerância extremada com as falhas desses, muito embora e de modo evidente, não tenham demonstrado o mesmo nível de tolerância em relação àqueles que não sejam da comunidade. Algo compreensível, mas fortemente experimentado pelos profissionais do projeto Purbasiun Vitae Project – Intelectual Ecology que foram alvo de manifestação contundente e perturbadora, em muitos momentos dessa relação profícua, no sentido científico.
Contudo, para os vizinhos que não conheciam e muitos ainda não conhecem a intimidade comunitária, é previsível que a opinião se tenha dividido. Com os famigerados desfiles, de tempos atrás, a comunidade se tornou alvo de visitas de homens afoitos e cobiçosos. Isto fez aumentar os comentários de indignação, das esposas, namorados, pais e familiares desses freqüentadores das festas em Noiva do Cordeiro. Alguns juristas dizem que segundo as leis estavam infringindo normas, ao praticarem o crime de vilipêndio contra o local sagrado, conforme a lei brasileira. Não há como evitar a idéia de que ultrapassaram alguns limites.
Evidentemente ainda hoje perduram costumes exóticos entre eles, mas é difícil comprovar a prostituição tradicional, muito embora o conceito religioso e cristão de prostituição seja claro e específico nesse caso, na contundente versão bíblica para prostituição. Os ofendidos, pois, devem ater-se ao sentido concebido pelas crenças religiosas sobre prostituição religiosa e outras considerações explícitas sobre o que culturalmente é defendido pela maioria da população. O termo prostituição é, hoje, amplamente, usado pelos moradores da região, como expressão de uma sexualidade livre.

Lembre-se que
a opinião pública é sempre muito cruel.
Não se importar com ela não significa estar acima dela.

Recentemente, 2007 para 2008, e, de modo intrigante, comentado por muitos vizinhos, mas orgulhosamente divulgado pelos moradores da comunidade de Noiva do Cordeiro que levaram ao pé da letra a idéia de “mutirão para ter filhos”. Muitos dos casais da comunidade resolveram simultaneamente ter mais filhos e num curto espaço de tempo de diferença de um para o outro casal, cerca de três meses entre o primeiro e o último a conceber filho, nasceram cerca de 22 crianças entre eles. Uma notícia recebida com estranheza pelas pessoas da circunvizinhança, e vários comentários surgiram sobre a atitude propalada, despertando idéias incontroláveis nos comentários sobre prazeres vergonhosos, entre os mais imaginativos. Lembre-se que a opinião pública é sempre muito cruel. Não se importar com ela não significa estar acima dela.
Não têm faltado etnólogos interessados pelo assunto do comportamento sexual dos povos civilizados e primitivos. A partir dessas pesquisas e estudos comparativos podemos esboçar algumas idéias razoáveis sobre os traços fundamentais da ética sexual.
Mesmo entre os povos primitivos existem barreiras na vida instintiva sexual. Alguns desses grupos inclusive têm mais restrições do que os mais tradicionais dos homens civilizados. Portanto é refutável a idéia de que os povos primitivos sejam promíscuos.
Por um lado, a hipótese de que os povos primitivos tenham sido, ou sejam promíscuos, é contestável, pois esses povos dão ao regulamento sexual, juntamente, com o homicídio, um significado dos mais importantes. As normas sexuais formam uma rede compacta que abrange a maior parte das situações vitais do indivíduo e mesmo da tribo; da gravidez, do nascimento, no rito de passagem, do matrimônio, etc. Segundo alguns antropólogos (Frazer, Preuss, Frobenius, etc.), existem duas posições distintas na história da civilização humana; a atitude religioso-supramundana e a atitude mágica. As duas concepções da sexualidade nos povos primitivos têm algo de comum que os define. A orientação geral é de cunho tabuístico. Ou seja, tabu religioso ou tabu mágico. Ambas as formas de orientação sexual possuem uma tonalidade de caráter sagrado. É claro, que em ambas existe a idéia de sanção automática devido à sua violação.
Concepções artísticas de um mundo moderno em que a sexualidade esteja fora dos parâmetros culturais do que é normal e proveitoso, ainda encontrarão resistência entre vários grupos religiosos. A regulação da vida sexual é objeto de preocupação religiosa, e os moradores de Noiva do Cordeiro, ainda que tenham rompido com toda forma de religião, estão sujeitos à interpretação do que é considerado apropriado e inapropriado. Mesmo com a idéia moderna e paradoxalmente primitiva, com riscos de promiscuidade, o “ficar” entre grupos de casais é uma atitude que provoca as imaginações e gera falatórios diversos. O termo fornicação é empregado numa série de textos bíblicos, e em muitos casos com o significado de infidelidade religiosa (João 8: 4; Apocalipse 17-19). Em geral significa, como no grego clássico, a luxúria segundo sua acepção mais ampla – relação sexual de homem-mulher fora do matrimônio, que tanto pode ser fornicação estrita, adultério ou incesto. A formulação de um comportamento sexual próprio do cristianismo não é uma teoria, é uma mística. Lembrando ao leitor de que a região na qual estão inseridos os moradores de Noiva do Cordeiro há predominância cristã tradicional.
Não se pode construir uma moral sexual à margem de seus pressupostos antropológicos, ou, o que é pior, em contradição com eles. A maioria das opiniões e interpretações sobre a moral sexual tem origem na ignorância de uma antropologia sexual. O modo de abordar o assunto pode ser variado, conforme os caminhos de acesso que se adotem, tais como o biólogo, o psicólogo, o sociólogo, etc.

“Não têm faltado etnólogos interessados pelo
assunto do comportamento sexual dos povos
 civilizados e primitivos.
A partir dessas pesquisas e estudos comparativos
podemos esboçar algumas idéias razoáveis sobre
os traços fundamentais da ética sexual.”

Uma das grandes contribuições de Freud para o estudo da sexualidade foi o de mostrar que a sexualidade humana não é uma realidade que surge num determinado momento, de uma vez por todas. A sexualidade é um fato dinâmico. Está submetido à lei de uma contínua evolução. É tão importante que compromete o desenvolvimento do indivíduo. Se a sexualidade é deste modo, então é necessário admitir que os erros, mais profundos, acontecerão nesse nível de evolução, daí os erros de fixações, regressões, das imaturidades e inadaptações. O homem e a mulher vivem e expressam a sua sexualidade no plano psíquico com características diferenciais. O amor humano é, pois, masculino e feminino.
A. Jeanniere, em Antropologia Sexual, diz: “A atividade do homem e a passividade da mulher são a miúdo a simples transposição psicológica de um simbolismo concedido ao pênis e à vagina... A evocação de um simbolismo primário de penetração e de receptividade, de posse e de acolhimento, até mesmo de conquista e de cativeiro, não tem muitas vezes mais peso do que o de um suporte idealizado com base em concepções tradicionais dos papéis próprios do homem e da mulher. Transposição dos gestos do ato conjugal para o conjunto dos diversos comportamentos da vida humana; com a possível influência (comumente nefasta) destas imagens na própria técnica amorosa”.
Conhecer as diferenças psicossexuais é algo de muito valioso e necessário para a avaliação do comportamento moral de cada um dos sexos. Margaret Mead, em Sexo y temperamento, diz: “Há duas formas de projetar a existência: uma própria da mulher e outra própria do homem. Esta maneira peculiar provém das estruturas antropológicas e da cultura; às vezes, a ‘cultura’ se sobrepõe à ‘natureza’, e outras vezes é a ‘natureza’ que não se deixa moldar pela ‘cultura’. Daí o caráter relativo e absoluto, ao mesmo tempo, do masculino e do feminino; duas categorias que se manifestam nos estudos etnológicos da sexualidade”.
O corpo humano dá à existência a possibilidade de comportar-se ou de projetar-se em formas simbólicas. Assim como a palavra é a expressão do pensamento, assim o corpo é a manifestação da existência. O corpo é o modo de nos tornarmos autênticos ou simplesmente anônimos. A existência corpórea exprime-se em diversas linhas, tais como através do movimento físico, da inteligência e da sexualidade. De fato, a vida sexual nos dá uma intelecção da história da existência de uma pessoa. A reprodução sexuada é uma “deliciosa invenção”, que no ser humano é mais do que simplesmente um ato de reprodução sexual. A sexualidade humana supõe o aperfeiçoamento das relações sociais. Entre os grupos de indivíduos desenvolvidos e maduros, a sexualidade é uma demonstração sofisticada, inserida no contexto cultural, de respeito e civilização.
O comportamento sexual tem uma dimensão sócio-cultural, é um fenômeno sociológico e cultural. É claro que a vida sexual tem bases sócio-antropológicas. É relevante lembrar que existe uma grande diferença entre o comportamento sexual do homem e o comportamento sexual dos animais. Esta diferença apóia-se no fato de que é necessária a superestrutura social na vida sexual do ser humano. O homem, contrariamente ao que sucede com o animal, não tem a sua sexualidade enquadrada nos limites de uma periodicidade estabelecida. Faz-se, pois, mister uma sexualização normal nas instituições sociais. A sexualidade contém muito de biológico, psicológico e sociológico. É por tal motivo que se torna necessária a presença da superestrutura social, uma vez que o ser humano precisa ordenar os seus impulsos como atos conscientes. As normas sociais para a sexualidade ajudam a buscar sua finalidade, não por meios automáticos instintivos, mas por meios superiores de orientação social.
A moral e honra é irredutível à sociologia e é autônoma em face desta. A ética depende da realidade constitutivamente moral do homem. Embora tenhamos de admitir uma variação nos costumes e até nas concepções morais do diversos povos, não se pode aceitar que não existem verdades e normas solidificadas e imperativas em todos os tempos. O escritor B. Häring, no livro intitulado El matrimonio em nuestro tiempo, diz o seguinte: “A sociologia da moral ou, para dizer melhor, a sociologia dos costumes e dos conceitos éticos, é particularmente importante quando examina metodicamente e com circunspeção, com um conhecimento claro de suas possibilidades e limitações, as mudanças que se operam nos costumes e nos conceitos éticos, e procura determinar até que ponto elas são devidas à ação do meio”.
O moralista cristão muitas vezes cai em tentação de ver as normas morais de um modo “abstrato e relativista”, como se estivesse “universalmente válidas”, e o mesmo pode ocorrer com os sociólogos que também podem ceder ao perigo de deduzir de meros fatos e normas imperiosas para a conduta humana. Este desejo de fugir de toda metafísica e da validez universal dos princípios, favoreceu à crença pseudocientífica de que, em questões de verdade e de moral, também é válido o princípio da – maioria democrática. A normatividade biológica é distinta da normatividade moral. O conceito de norma moral sexual nunca é de origem biológica. Quando uma norma sexual se baseia apenas na biologia, desaparecem qualquer ética e educação sexual. A norma não provém de uma natureza biológica, já que a norma é de caráter social ou de caráter moral.
Noiva do Cordeiro é um nome de forte conotação e implicância do gênero feminino. O próprio desenvolvimento da comunidade sofreu influências fortíssimas da liberdade concedida à mulher, nos últimos tempos. Note-se que desde o início as ocorrências estavam associadas à questão de gênero, portanto, segundo uma sociologia da moral. Ainda no princípio de século XX, Maria Senhorinha de Lima tomou atitude corajosa ao romper com o esposo e amasiar-se com um amante. A seita, com o nome Noiva do Cordeiro, por sua vez, contribuiu para influenciar na significância do feminino. Além disso, serviram para reforçar as questões de gênero o fato de que haver nascido maioria mulher, fundarem uma fábrica de lingerie e realizarem desfiles, elas mesmas. Com eleição de Rosalee Fernandes Pereira (uma senhora moradora do povoado de Noiva do Cordeiro), em 2004, estabeleceu-se, de modo tácito, uma concepção fortemente impregnada pelo gênero.
Ao buscar os sentidos que se produzem, e toda a fenomenologia associada à representação social desse grupo comunitário, na cidade de Belo Vale, é insuficiente a teoria do – preconceito e discriminação. Há evidente um adoecimento quanto à sexualidade. Mas ao mudarmos nossa compreensão da realidade produzida nos últimos 30 anos, auxiliados pela grandeza teórica de Sigmund Freud, é possível ver a vala funda que houve entre os moradores de Noiva do Cordeiro e seus vizinhos. Contudo, pelas novas demandas postas pela sociedade atual, é fato que ficou para trás uma visão moralista da sexualidade, com grande distanciamento dos princípios religiosos, da educação escolar. Certamente, há uns abismos entre o conceito dos desígnios considerados divinos e os padrões biológicos.
O leitor inteligente e sensível deve ater-se ao fato de que não se trata aqui de adequar a sexualidade dos moradores de Noiva do Cordeiro aos padrões morais determinados pela sociedade ou pela religião. Trata-se de promover a compreensão das diferenças de mentalidade que existem entre os grupos de pessoas da região, com história centenária e isolamento geográfico, com estradas em conexão com Belo Horizonte, somente há 40 anos. Precisamos estar de acordo e engajados na possibilidade promissora de melhorar as condições de vida para todos, sem distinção, auto-estima e reconhecer simultaneamente
as diferenças entre todos.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Noivas do Cordeiro - uma fase de desenvolvimento

Noivas do Cordeiro; existe um desenvolvimento comunitário?
O homem trata de coisas não existentes ou imaginárias, precisamente com a mesma segurança com que trata de objetos tangíveis. Sim, acreditamos e sabemos que as sereias não existem, mas o artista pode pintá-las em lindos quadros, o cineasta pode produzir filmes com interessantes histórias sobre esses seres lendários. Podemos ensinar alguém o caminho para chegar a uma trilha de uma famosa cachoeira. São tantas e diferentes instruções que podemos transmitir através de palavras, e certamente o desenvolvimento humano está associado a várias dessas instruções.
Uma das mais extraordinárias possibilidades mentais do homem é a sua capacidade de abstração mental. Na verdade, a maior parte do potencial de aprendizado depende da capacidade de quem ouve, e o que a pessoa faz com o que foi ensinado. Claro que as informações preciosas transmitidas por uma pessoa hábil e inteligente dependem dos recursos mentais que o ouvinte possui, para perceber, imaginar, abstrair e consequentemente executar tarefas baseadas na seqüência de instruções transmitidas. Foi após o aparecimento da capacidade mental para lidar com abstrações intelectuais que surgiram as altas matemáticas, filosofia, poesia, religião, ética, e muitos outros caminhos do conhecimento. O desenvolvimento humano depende dessa capacidade humana - o raciocínio.
Quando o cientista social em trabalho de campo realiza estudos numa determinada comunidade, muitas de suas propostas e tecnologia social empregada dependerão das condições que dispõem os moradores. O serviço à comunidade não é a mesma coisa que Desenvolvimento da Comunidade. Muitas instituições oferecem serviços que possibilitam melhores condições sociais, seja na forma de atividade religiosa, instrução técnica, mobilização social, palestras, cursos, etc., mas ainda essas admiráveis ajudas ao povo e às organizações não é o Desenvolvimento Comunitário.
Muitas pessoas pensam que o Desenvolvimento Comunitário é uma atividade destinada a favorecer povos subdesenvolvidos. Trata-se de proporcionar boas condições, como apresentar uma receita para a tomada de decisões inteligentes. Algumas definições para o sentido que se dá para Desenvolvimento Comunitário focalizam o aspecto externo. Algo como se o desenvolvimento tivesse que ser a construção de novas escolas, hospitais, piscinas, algum prédio novo ou aquisição de equipamento. Porém, trata-se de algo ainda maior que isso. É mais do que os triunfos conseguidos, o aperto de mão do governador, o trator da prefeitura sempre à disposição, e outros paparicos em troca de favores tenebrosos.
Todos os ativistas profissionais em ação social procuram a ênfase do melhoramento de condições, da vida econômica e mesmo mudanças substanciais de opinião pública, que modificam grandemente de base ao ambiente comunitário, e por mais arrogante que sejam, é um fato que essa última possibilidade melhora profundamente as condições de vida de qualquer comunidade, no mundo, que almeje o respeito e boas condições sociais.
O Desenvolvimento Comunitário é compreendido de diferentes maneiras. Refere-se a vários estágios ou muitas e variadas atividades. Do ponto de vista que utilizamos o termo, a essência do seu significado é mais ampla e ultrapassa os limites físicos.
Ainda no ano de 2006 quando em Belo Vale várias pessoas falavam das moradoras de Noiva do Cordeiro, com expressões desagradáveis, e outros irresponsavelmente estimulavam que visitássemos o local, com claras evidências de que estavam estimulando a prevaricação sexual. As referências eram absolutamente desagradáveis de ouvir e provocavam idéias ruins a respeito de todas as pessoas que porventura morassem na Vila de Noiva do Cordeiro. Quem não se comoveria com o falatório intenso e rico em detalhes sobre a conduta delas, como se fossem as pessoas mais depravadas? O termo menos grave que utilizavam para definir a conduta dos moradores desse povoado era o de que todas as mulheres eram “prostitutas”. Pelo modo como essas pessoas falavam sobre o local, ficou claro que era um costume deles desde há muito. Supomos que inúmeros outros visitantes tivessem ouvido sobre esses assuntos provocantes.
Da parte dos profissionais que ouviram esses comentários ocorreu uma reação diferente, simplesmente pelo fato de que estavam e estão a serviço de Mobilização Social, dentro do Vale do Paraopeba. Comentários caluniosos ou difamatórios não poderiam servir aos propósitos de defesa do patrimônio arqueológico, cultural e histórico. Certamente, qualquer indivíduo que lide com uma ampla variedade de interesses especiais, procura apoio de – Boas Causas -, que tradicionalmente são tidas como louváveis; defender o meio ambiente, defender a justiça, defender a moral e os bons costumes, promover o bem-estar social, etc.
Quando fizemos a primeira visita, os moradores de Noiva do Cordeiro, no dia 28 de agosto de 2006, demonstravam pouca preocupação com o que apresentamos como um suposto problema social. Várias das jovens disseram: “Nós não nos importamos com o que o pessoal de Belo Vale pensa de nós. Isso não afeta nossa vida em nada.” Aparentemente ninguém sentia incômodo pelos comentários que transmitimos a eles e expressamos nossas preocupações a respeito. Exatamente por considerar um ato de cidadania e justiça, além do fato de que estariam moralmente em risco, sendo prejudicadas socialmente. Depois de argumentar nesse sentido, outras pessoas refletiram sobre possíveis percas que estavam ocorrendo e imediatamente associaram a essa marginalização social. A conversa simpática durou bastante, e fomos convidados a dormir na vila. No dia 29 de agosto do mesmo ano, Rosalee Fernandes Pereira, a vereadora eleita basicamente por seus parentes do povoado de Noiva do Cordeiro, não foi à câmara e ficou conosco, como anfitriã e nos apresentou sua avó Geralcina, sua tia Matuzinhas, e também o seu tio Elias para contar “causos”. A vereadora fez inúmeras perguntas e procurou saber o que um antropólogo da comunicação poderia fazer no sentido de melhorar as condições e reputação dos seus parentes. Foram apresentadas diferentes explicações e possibilidades, com o intuito de esclarecer em que serviria e quais seriam as chances de sucesso. Primeiramente, foi levantada a hipótese de Mobilização Social e de modo consecutivo a descoberta do interesse comum dos habitantes do vilarejo.
Trinta dias depois da primeira visita Rosalee telefona-nos para nos convidar a um passeio até o Norte de Minas e discutir possibilidades de uma intervenção antropológica entre eles. Antes da viagem, durante uma semana, foram discutidas diferentes estratégias e condições de realizar melhorias substanciais entre eles, quanto ampliar as condições sociais da comunidade. Ficou estabelecido que algumas pessoas trabalhariam no oficio de artesanato, na forma de aprendiz, e que o ateliê seria um Projeto Piloto para ser estendido a toda a comunidade quando fosse conveniente. Ainda no ano de 2006 as iniciativas foram bem sucedidas, com a apresentação do primeiro trabalho de artesanato sendo levado para a exposição da Expominas (associado ao projeto Vale Cultura). Foram divididos em diferentes grupos de aprendizes, com responsabilidades para algumas pessoas que se destacavam com algumas habilidades. Não havia qualquer pessoa especializada em nenhuma profissão, e demonstraram grande boa vontade de aprender e progredir; foram improvisados departamentos com crachás para todos, no departamento de comunicação visual e monitoria antropológica, biblioteca, ateliê, etc.
Durante esse processo de observação-participante, ficou notável o que representava para as mocinhas da comunidade, que a palavra “prostituta” havia se tornava uma grande ofensa a elas. Se no primeiro instante, por um ato de desprezo negaram a importância e ofensa da palavra, com o tempo o assunto se tornou uma séria preocupação. O curso de filosofia aplicada, várias palestras e admoestações fizeram com que ocorressem mudanças significativas. Todas as moradoras discutiram, após uma palestra sobre o assunto, a respeito de suas roupas provocantes e decidiram de forma unânime abandonar as minissaias moderníssimas. No dia seguinte à palestra uma das jovens moradoras veio nos dizer sobre essa decisão. Foi algo emocionante e perturbador, quanto surpreendente.
O termo “prostituta” passou a ter uma diferente conotação entre eles, depois de exaustivas discussões a respeito do que representariam um rótulo depreciativo que certamente marginaliza a mulher na sociedade. Para a própria comunidade haveria graves conseqüências. Nem sempre as pessoas percebem a importância assumida pelas palavras e pela fala das pessoas. Para muitas pessoas mesmo uma conversa normal pode se tornar de importância vital. Declarações que classificaríamos como pura tagarelice ou conversa fiada podem ser levadas a sério e cuidadosamente analisadas. Para muitas pessoas se uma pessoa é importante igualmente é a palavra que a designa. Uma parcela considerável do que está no passado dessa comunidade está inserida na identidade coletiva dos moradores. É claro que a construção da memória coletiva tem fortes vínculos com o que os indivíduos fizeram de seus passados. Contudo, após as inúmeras reportagens maquiadas e coloridas pelas cores berrantes da edição jornalística, até mesmo os antigos opositores mudaram o tratamento em relação aos habitantes. Uma mudança oportuna e por vezes oportunista, pois a reinterpretação do passado dessa comunidade faz parte de uma atividade deliberada, fruto de uma “falsa consciência”, com sentidos absolutamente discrepantes em relação ao passado histórico.
Sob certo aspecto, os resultados são nítidos, mas inteiramente vulneráveis à realidade. Uma vez reunidas as correlações entre mais de uma dúzia de diferentes fatores que influenciam no comportamento, podemos notar quão verdadeiro e importante é a influência de uma palavra para o cérebro. Se repetidas vezes uma pessoa ouvir um termo de conotações fortes, isto pode influenciar que a pessoa ou grupos de pessoas passem a agir dessa ou outra maneira. O inconsciente coletivo é algo extraordinário e não deveríamos exagerar ou ignorar sua importância. Incrivelmente, fomos todos influenciados com essas significativas afirmações a respeito dos moradores de Noiva do Cordeiro. Seria difícil antecipadamente ter certeza de que não se tratava de uma comunidade onde as mulheres não fossem prostitutas. Logo à primeira vista, havia alguns sinais que indicavam uma comunidade distinta das demais conhecidas em todo o Vale do Paraopeba. Entretanto, ocorria a idéia clara de que realmente o local pudesse ser um prostíbulo, baseada nalgumas suposições e influências tanto do que havia sido dito, de maneira convincente, quanto várias posturas que nos fizeram enganar. Somente após meses seguidos tornou-se possível diminuir essa dúvida, e aumentaram nossas certezas.
Os cientistas sociais não são aventureiros procurando diversão ou reformadores do mundo. São peritos da sociedade e do homem. Claro que em muitos momentos os conceitos sociológicos servem e serviram pra melhorar a sorte de grupos de seres humanos, seja pela revelação de suas potencialidades ou destruindo suas ilusões coletivas. É claro que o cientista social sensível às questões morais pode sentir gratificação quando seus conhecimentos contribuem para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
Este profissional se ocupa de compreender a sociedade de uma maneira disciplinada. Significa que aquilo que ele descobre e afirma sobre os acontecimentos e fenômenos devem estar dentro dos limites rigorosos do científico.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Continuar

terça-feira, 15 de junho de 2010

TOUR IN BELO VALE (BRAZIL)

This video points different places from a city that is in a zone named "Vale do Paraopeba", in the Minas Gerais State, Brazil. This is an invitation to you make tour based on Scientific Tour or Cultural Tour. Your Tour Guides are scientists who searching for brasilian history, traditions, and so on. This project began in 1999 throu many different burgh and cities.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

NOIVAS DO CORDEIRO; um sucesso na televisão...



Com base nos conhecimentos atuais adquiridos através do convívio intenso, com objetivos científicos de etnografia, ainda persistem graves dúvidas sobre um passado histórico desse grupo comunitário. É evidente que a representação social que mantêm faz-nos supor que ocorreram grandes melhoras no comportamento tanto dos moradores de Noiva do Cordeiro quanto dos seus vizinhos; isso é mais importante, muito embora haja uma necessidade da verdade histórica, difícil de ser conhecida. Certamente, um estudo profundo sobre os prováveis comportamentos e permitem-nos deduções lógicas a partir das características ricamente conhecidas sobre o grupo de pessoas da região. Todos sabem que o cotidiano rural em Belo Vale é monótono e tranqüilo. Certamente, os grupos de jovens provenientes de famílias tradicionais têm uma bagagem cultural distinta de outros grupos urbanos e “estranhos”. Noiva do Cordeiro é um grupo de pessoas que provocou e tem provocado estranhamento. Seria essa uma das raízes problemáticas entre eles.
Presumivelmente e devido a uma nova percepção dos fatos, pode-se analisar o fenômeno de maneira distinta das muitas opiniões que surgiram, enquanto que muitos dos equívocos e admiração por parte do público ingênuo foram fundamentados apenas pelas “Lindas Reportagens” ou visitas superficiais, diante de um cenário óbvio, comum a todos os locais que inicialmente nos recebem. Reconhece-se de antemão que o saber sobre os fatos que nos guiam, são eles mesmos incoerentes, só parcialmente claro, contraditório e vários aspectos. Igualmente, existe uma boa vontade de esclarecimento, especialmente lembrando os dois anos intensos de estudos etnológicos e mobilização social dentro da vila de Noiva do Cordeiro. A visão hiperbólica sobre essa comunidade e seu cotidiano histórico está seriamente comprometida, devido a essa falsificação jornalística contrária à realidade dos fatos. Quanto a isso, nenhum estudioso científico negaria a necessidade de estudos complexos e intensos sobre os fatos alegados e que favorecem o engodo, de maneira injusta e imoral, por não obedecer aos critérios apropriados sobre a questão – o contraditório. É importante manter o respeito à memória e honra das pessoas e lembrar que túmulos e lembranças não são e nem podem ser transferidos de um lugar a outro, facilmente, como ocorre com objetos, etc. As pessoas precisam ser ouvidas, mesmo que não sejam favoráveis às interpretações simpáticas sobre um sofrimento alegado e uma condição de vítima.
Nada prova que a recente modificação das características positivas, muito estimulada pelos sentimentos despertados com a intensa tietagem da imprensa, seja duradoura. Certamente, um profissional atuando dentro da comunidade deveria sempre ser ouvido, em conformidade com sua especialização, além do compromisso com o grupo. Justamente, com excessões, por não ouviram os estudos científicos que realizaram estudos e mobilização comunitária, ocorreram reportagens a esmo dos fatos reais, suprimindo os detalhes relevantes. Sairam rapidamente do anonimato e invisibilidade para os "Quinze minutos de fama", algo excessiva, com aumento demasiado da auto-estima dos moradores. Há, portanto, hoje um desequilíbrio nas relações sociais. É óbvio que após as transformações tornou possíveis novas e melhores interpretações do comportamento, para o estudioso antropológico, facilitando as condições de elaboração teóricas sobre o passado recente, longe dos olhos esclarecidos.
O volume crescente de fatos negativos envolvendo moradores de Noiva do Cordeiro tem ocorrido. Numa região de baixa densidade demográfica, longas distâncias entre um povoado e outro e um escasso policiamento, é motivo de preocupação para as autoridades e os grupos de cidadãos organizados. Discute-se sobre questões de segurança e desenvolvimento cultural. Naturalmente se os jovens moradores se tornam agressivos e violentos, e dirigem em alta velocidade pelas estradas precárias da zona rural, passam a ser alvo de discussões comunitárias. Por outro lado se procuram freqüentar festas religiosas que eles não admiram, envolvendo-se em brigas e provocam um furor e preocupação, nos povoados vizinhos.
A equipe do Purbasiun Vitae Project – Intelectual Ecology constata que, de algum modo, ficaram psicologicamentecomprometidas. Estão com a auto-estima acima do senso de auto-crítica, pois, foram, equivocadamente, transformados em “ícones da felicidade e modelos” pelas reportagens. É um fato para ser analisado pela Secretaria de Cultura e Turismo na cidade de Belo Vale que têm um dos mais ricos patrimônios arqueológicos, históricos e naturais da região, com uma antiguidade impressionante.
É necessário ocorrer reflexões sobre as possibilidades promissoras e aproveitamento inteligente do Marketing poderoso da imprensa. Não se pode negar que fez atrair para a região grande número de visitantes, de maneira indiscriminada. Um fato preocupante enquanto na região não houver uma Gestão Pública, com apropriada Filosofia do Turismo. Não há sinais de que estejam implementando quaisquer Tecnologias Sociais, a este respeito. Por outro lado, dentro dessas discussões será preciso lembrar que o verdadeiro “leitmotiv” do pensamento coletivo de uma comunidade composta por maioria jovem é diferente se eles exercem influência excessiva; se não receberam uma educação arrojada sobre comportamento, com certeza a noção de respeito, prudência e responsabilidade estará comprometida, fazendo com que estejam muito mais dedicados ao simples deleite do cotidiano divertido, ensejado numa atmosfera favorável ao cortejo irreverente e as mais bizarras cogitações amorosas excitantes.
Várias pesquisas antropológicas de inspiração estruturalista circunscrevem melhor o problema, para além das simples cogitações populares. Pesquisa etnológica é humanamente falha, porém mais apropriada do que quaisquer observações superficiais, comum ao meio não-especializado. Sim, podemos nos referir para exemplificar, utilizando os antigos acontecimentos registrados pelos estudos arqueológicos do Paleolítico Inferior, quando o progresso ainda era muito lento, mas, começaram a desenvolver um conjunto extra-somático de ferramentas. Depois disso, eles passaram a depender cada vez mais de equipamento não-genético, e na medida em que se desenvolviam, tornou-se possível, cada vez mais, a atuação da – Lei da Crescente Dependência da Cultura. É óbvio que essa crescente dependência da cultura não irá até o ponto de eliminar a influência da biologia humana. Hoje, portanto, o uso competente e irresponsável do Poder Midiático põe em risco alguns dos mais importantes valores da cultura regional – a defesa da virtude. Com o moderno aperfeiçoamento dos meios de comunicação espalham-se notícias através de todo o mundo.
Reiterada vezes nos referimos às matérias jornalísticas sensacionalistas sobre Noiva do Cordeiro, não por algo dessas matérias que apresentem algum acontecimento aberrante e terrível. Claro que ainda não nos detivemos pormenorizadamente a estudar todas essas matérias, mas sim o comportamento modificado dos belo-valenses e circunvizinhanças. São de fato – sensacionalistas – pelas referências notórias à uma condição inverídica de vítima de preconceito e discriminação. É uma condição diferente e que os distingue por serem “autênticos revolucionários” que romperam com a norma e praticaram vilipêndio contra o sagrado. Por esse motivo além de outros se tornaram alvos de mórbida curiosidade, intensas especulações, motivadas por suas próprias atitudes; seja nas rápidas mudanças comportamentais, quebras de tabus, indumentárias provocantes com apelos sexuais, festividades exóticas, transformação da igreja num bar, desfiles de lingeries (alguns transparentes) por garotas adolescentes dentro de um botequim (o mesmo que antes era uma igreja), posicionamentos políticos partidários extravagantes, e diferentes condutas que suscitam idéias infelizes. Ora, pois, neste sentido os apelos sensacionalistas existem na criação artística de reportagens de conteúdo ficcionais, com edições impecáveis que transmitem idéias falsas sobre uma região e uma época absolutamente irreais.
O leitor sensível e inteligente sabe que é necessário um discernimento crítico e todos sabemos que falar sobre polêmicas religiosas nunca foi um problema fácil. No entanto, é necessário analisar todas essas questões religiosas e evita-lo seria como se fosse impossível chegar-se ao consenso sobre o assunto. Uma boa matéria jornalística deve detalhar pontos que são relevantes, mesmo sem a precisão e profundidade de uma pesquisa etnológica. Contudo, ao fazê-lo, o jornalista exerceria melhor sua profissão, se se enquadrasse dentro dos parâmetros éticos da própria profissão, além de evitar a difusão de chateações às pessoas que presenciaram os fatos, ou foram vitimas deles. Talvez esteja também ai a importante questão da identidade pessoal e profissional, com uma total entrega a uma “aceitação obediente, de pouco conteúdo e criatividade”, diante do poder um patrocinador. Deveriam ao menos ter cuidado com matéria sensacional, se está incompleta, com sinais de contradição e mentira irreverente. Voltamo-nos ao leitor sensível e inteligente e propomos a ele que reflita sobre as questões que suscitam, quando a intriga prevalece acima dos fatos. Como é que ficam as descobertas e avanços de Tecnologia Social dos últimos tempos? Como podemos colaborar para melhorar as relações e evitar injustiças contras as pessoas do tipo – aquela pessoa é feia e suspeita; a carne de negros albinos é boa para dar sorte; brasileiros são malandros e preguiçosos e suas mulheres são fáceis?

segunda-feira, 24 de maio de 2010

NOIVAS DO CORDEIRO; Um Jardim Secreto


O desenvolvimento de assentamentos humanos segue uma lógica de acontecimentos associados às condições ambientais que permitam sobrevivência e interferências humanas, nesse ambiente físico e social. Claro que o ambiente natural e social sempre fornecerá respostas. Esse desenvolvimento ocorre sobre o prisma das condições antropológicas próprias e desenvolvidas durante os anos, certamente, levando-se em conta a ancestralidade. É uma questão séria que não se esquiva da discussão sobre gênero e desenvolvimento cultural. Homem e mulher se completam mutuamente e por vezes pessoas do mesmo sexo procuram satisfação e união que permita a sobrevivência; à parte intrigantes questões de sexualidade, ao menos não são possíveis ignorar o gênero feminino e todas as mazelas a que é submetido.
Fatores diversos, que não cabem nessa postagem, interfiram nas condições de vida humana dos moradores de Noiva do Cordeiro, associadas à diferença sexual quanto comportamento sexual dos moradores, que naturalmente serviu aos muitos dos seus propósitos. Nunca se deve ignorar as mentalidades que circundam nosso ambiente, que estão inseridas no desenvolvimento antropológico.
Nos locais onde ocorrem hostilidades de cunho físico e psicológico, desenvolvem-se padrões adaptados e específicos. Nisso incluem diferentes políticas e crenças que são igualmente modificadas para que ocorram equilíbrio e concordâncias com as forças dominantes. É claro que as pessoas utilizam o sexo como ferramenta de poder, e por vezes de submissão aos que detém esse poder; trata-se de “Sexo e Poder”. Naturalmente, nos ambientes onde existe um consenso de que no – amor tudo vale -, pode-se supor e há de se esperar uma “troca de favores” mediante atos sexuais. Uma verdade nem sempre considerada prostituição. Contudo, nos ambientes onde a sexualidade é prática desregrada, por falta de educação, e certamente onde não ocorrem discussões inteligentes e prolongadas sobre a sexualidade, o risco de acontecerem desvios de conduta e perversidades é sempre maior. O senso comum considera que alguns comportamentos sejam corretos e outros não, o que é convenientemente aceito pela sociedade.
Sim, falar sobre a sexualidade é verdadeiramente discutir as razões, com ou sem precedentes, com as quais teve e ainda tem de lidar os moradores de Noiva do Cordeiro. Todo o acontecimento gerando ações e reações provocaram profundas alterações na mentalidade dos moradores e não se pode dizer que perderam totalmente o senso ou eram e foram absolutamente diferentes dos demais vizinhos, mas sofreram transformações nas suas personalidades. As diferenças certamente estavam apenas no modo aparente de demonstrações e comportamento públicos. O que notoriamente fez destacar as jovens moradoras. Quanto às suas antropomorfias de características européias, que têm ancestralidade. Elas não são fisicamente diferentes das suas vizinhas, pois são tão belas quanto às outras que são suas consangüíneas; as intrigas e conflitos não têm origem nalgum tipo de ciúme e inveja, por complexo de inferioridade dos adversários. Sim, são as jovens camponesas de Noiva do Cordeiro de belas aparências, e cuidam-se com bastante zelo. Não existiriam abertamente esses tais motivos de conflito entre mulheres, pois os comentários de reprovação e por vezes de absoluta excitação sexual advêm dos homens da região. Noiva do Cordeiro, certamente não é um local de desenvolvimento cultural num ponto extremo em comparação com qualquer comunidade da região, trata-se de um local exótico e incomum.
Sobre os costumes sexuais da região, são registrados festividades de grande clamor sexual, muito embora por outro lado ocorram festividades religiosas, e mesmo nessas há expressões fortes de sexualidade. Também existem registros, que influenciam nos costumes em geral, de índice de ocorrências de incesto. Vê-se que não há uma região inteiramente pacífica e desenvolvida que combata fortemente os males de uma sexualidade com desvios, e não se pode generalizar, sem esquecer que não há política pública combatente ostensivamente esse mal, nem tampouco uma cultura de conscientização sobre o assunto. Essa é uma chamada para se faça e com bastante entusiasmo uma ampla campanha contra tais perversões.
Em relação aos moradores de Noiva do Cordeiro a situação é inteiramente diferente, por estarem enquadrados pelas sanções a que estão sujeitos. Muito pior é o fato de que as pessoas tenham se tornado admiradoras deles, baseados em uma história inteiramente diferente dos fatos reais ocorridos na região, mesmo diante de tristes registros. Não ocorreu do modo como a imprensa trata o tema. Temos de aplicar a questão heideggeriana: “Para o que é isto?”...e necessariamente alcançar a compreensão da estrutura simbólica e da representação social da mulher, seja feminina e dócil, aconchegante e maternal ou simplesmente livre e erotizada. De muitas maneiras a mulher está à mercê do universo masculino.
As reportagens não as distinguem senão ilusoriamente o quer que seja necessário da realidade dos fatos. Faz-se necessário que se instaurem pesquisas detalhadas para além da propaganda e ficção documentarista. Existe uma edição rocambolesca, no canal da GNT, com uma pesquisa apressada e passional, ocorrida sem os devidos cuidados exigidos nesse caso. Sim, na edição foram suprimidas importantes declarações de testemunhas que forneceriam detalhes que fortaleceriam e certamente fariam o documentário diferente em relação ao assunto em questão. Pode-se citar um dos importantes colaboradores da comunidade, que fez a primeira visita, em agosto de 2006, com intenções de avisar e fornecer orientações a respeito, Bruno Johnny. Também, sem um motivo aparente, a gravação feita com o morador de Moeda que já freqüentou o local, anteriormente, de nome Renato Nigri (vulgo Chico), foi suprimida. Para completar as declarações que aparentemente oferecem o contraditório são de Wagner, Antônio Resende e José Maria dos Santos, pessoas de pouquíssimo envolvimento com o assunto.
No primeiro momento o entrevistado, de nome Wagner, declarou ter ouvido fofocas que mencionam os desfiles que haviam no casarão, com mocinhas de calcinha e sutiã, também que havia comentários sobre um prostíbulo. O Wagner foi em alguns dos desfiles realizados no bar de Noiva do Cordeiro. Sim, é verdade que se trata de uma declaração baseada nos fatos, muito embora os desfiles, grosso modo, ocorriam com relativa freqüência, no bar onde anteriormente era a igreja Noiva do Cordeiro. (Sobre a prostituição nada há que se comprove, muito embora o termo seja uma forma de marginalização da comunidade pelas atitudes consideradas irreverentes e certamente reprováveis pela cultura e constituição brasileira, com a prática de vilipêndio contra o sagrado). Em relação à segunda testemunha, todas são unânimes de que ele não era amigo ou freqüentador da comunidade, quanto suas declarações não foram verdadeiras, sendo um morador há 25 km de distância do local, enquanto moradores próximos e/ou freqüentadores da comunidade não foram ouvidos. E por último o senhor José Maria dos Santos nunca havia ouvido falar das intrigas, ou jamais esteve na comunidade, não fosse o fato de os ativistas do Purbasiun Vitae Project – Intelectual Ecology terem apresentado pessoas de Noiva do Cordeiro, em visitas à sua casa em Moeda. Ele inclusive, na entrevista, oferece uma resposta evasiva e fora do contexto a que se pretendia formar no contraditório.
Descartes lembra-nos que somos vítimas de duas principais fontes de erros: oriundos dos nossos “apetites” e de nossos “preceptores”. O que certamente nos faz pensar que controle imperfeito dos nossos apetites nos conduz a tudo, menos ao bem estar. O que se pretende com isso é desencorajar as pessoas que costumam reinventar a história, tanto quanto refutar as declarações dos protagonistas que apresentam os fatos sem a devida contextualização ou encenação trivial de lágrimas de um sofrimento até então desconhecido de todos.
O papel importante das – tecnologias de vilas – é de fato essencial. Quando se trata de utilizar materiais baratos disponíveis, frequentemente, vemos interessantes e soberbas obras de puro artesanato. Noiva do Cordeiro é uma vila distinta e desde o ano de 2006 foram encontrados bens materiais distintos da maioria dos vizinhos, com um número de objetos tecnológicos e meios de transporte que facilitam a comunicação. O que invalida qualquer afirmação de isolamento físico ou mesmo de uma vida atormentada por dificuldades. Resolveram essas questões com um modo de vida, inteiramente novo, para os padrões regionais. Sabemos que as sociedades camponesas normalmente sabem adaptar racionalmente seu habitat ao espaço e ao clima, assim como desenvolvem posturas comportamentais geralmente amistosas com os vizinhos, em condições apropriadas. Geralmente os grupos minoritários são absorvidos ou suprimidos, e certamente muitos se adaptam para não “perder a conexão”. A integração ativa dos seus membros aos acontecimentos do século XX e XXI, permite-nos questionar toda a operação ocorrida no decorrer dos anos que não levou a uma extinção. Uma das respostas óbvias é justamente o próprio auto-isolamento e relações com outras comunidades distantes, e mais ou menos próximos, tais como Piedade dos Gerais, Desterro de Entre Rios e outros. Das tecnologias de vilas essenciais para a sobrevivência física e espiritual, a religião é sumamente importante para os grupos de pessoas. A diferença surgiu a partir desse ponto em que os moradores fizeram adaptações inteiramente exóticas a situação sócio-cultural. Os moradores, no decorrer do século, foram incapazes de manter a tradição e transgrediram-na, mediante atitudes indiscutivelmente ofensivas à mentalidade dos vizinhos e mesmo segundo a própria constituição brasileira que assegura o direito e proteção do patrimônio sagrado. Ao que se apregoa, e segundo alguns critérios, as igrejas não são de propriedade particular, mas um bem comum, que goza de privilégios e obrigações inteiramente distintas de uma empresa. O que naturalmente enquadra a seita de Noiva do Cordeiro, os atos cometidos dentro dessa igreja e especialmente a transformação dela em um bar. Obviamente, para uma pessoa que ignora as normas e até mesmo incentiva a desobediência e desrespeito ao que foi, prontamente, tido como correto, o argumento apresentado uma balela desconexa.
O que importa e deve-se ater ao fato de que há necessidade urgente de esclarecimentos e elucidações antes que simples comentários tão similares com as fofocas geradoras de conflitos. Todo público teledependente (viciado em televisão) precisa fortemente ser forte para não tornar-se crédulo a tudo quanto foi apresentado pelos canais de televisão, e naturalmente utilizar as informações para avançar além. Vale ressaltar que o processo histórico de uma comunidade não está separado do seu cotidiano, mesmo após sábias adaptações. Há de se supor que tanto o passado, mesmo a ancestralidade, exerce grande influência sobre as qualidades e os defeitos de um povo. De antemão, é cruel condenar um grupo de pessoas pelo passado, assim como é suspeito o fato de se pretender suprimir ou burlar o público com informações incompletas e descontextualizadas.
As reportagens e documentário sobre essa comunidade pecam por suprir fatos importantes que devem ser mencionados, tais como os esforços desmedidos dos moradores que trabalham duramente no Ceasa, e outras empresas, geralmente em serviços braçais extenuantes, para manter parcialmente o conforto das suas esposas, namoradas, primas, e parentes. Além dos recursos provenientes da aposentadoria de muitos dos idosos que residem dentro dessa comunidade ou em cidades vizinhas. É um bom exemplo de como eles fazem adaptações razoáveis e promovem o bem estar para muitos deles, do mesmo modo é fumegante a idéia do poder emanado a troco de algum fabuloso benefício (por nós desconhecido) que inspira outros contribuírem, mesmo que não se beneficiem diretamente dos resultados obtidos. Precisamos nos concentrar nos detalhes preciosos que constituem os costumes deles e certamente obteremos informações igualmente relevantes para a compreensão das tecnologias desenvolvidas por eles.